Resenha: Anjo Mecânico

Anjo Mecânico é o primeiro livro da série As Peças Infernais (The Infernal Devices, no original, ou simplesmente TID), escrita por Cassandra Clare. TID é um prequel da série Os Instrumentos Mortais (The Mortal Instruments, TMI), que teve seu primeiro livro, Cidade dos Ossos, adaptado para o cinema e que estreou em agosto do ano passado.
Anjo Mecânico apresenta o mundo que deu origem à série Os Instrumentos Mortais, sucesso de Cassandra Claire. Nesse primeiro volume, que se passa na Londres vitoriana, a protagonista Tessa Gray conhece o mundo dos Caçadores de Sombras quando precisa se mudar de Nova York para a Inglaterra depois da morte da tia. Quando chega para encontrar o irmão Nathaniel, seu único parente vivo, ela descobrirá que é dona de um poder que capaz de despertar uma guerra mortal entre os Nephilim e as máquinas do Magistrado, o novo comandante das forças do submundo. 
Eu já tinha lido os três primeiros livros de TMI quando peguei Anjo Mecânico, então já sabia bem o que esperar da Clare nesse livro, pelo menos na parte de escrita e construção de personagens. Não esperei, porém, me encantar pelo modo com que ela descreveu e ambientou sua história na Londres Vitoriana. Nesse quesito, o trabalho da Clare foi completamente perfeito; Anjo Mecânico é uma imersão de primeira linha na Inglaterra de mais cem anos atrás. Se você gosta de filmes como as novas adaptações de Sherlock Holmes, Anjo Mecânico é a história certa para você.

Outra coisa de que sempre gosto muito nos livros da Clare são os personagens e a relação entre eles, e nesse primeiro volume é a amizade entre Jem e Will a que brilha mais. Jem é calmo e delicado, gosta de tocar violino e sofre de uma doença terminal. Will é sarcástico, misterioso e bem daqueles “gosto de irritar mesmo", o que, é claro, os faz completamente opostos. Essa ideia de melhores amigos se apaixonando por uma garota é cliché ao extremo, mas a dinâmica entre ambos é, para mim, o melhor que o livro tem a oferecer.

Já vi muitas pessoas comparando Will a Jace, de TMI. Os dois são sim parecidos, mas, sinceramente, não são iguais. Jace é sarcástico e Will também é, mas sua maior característica é ser sincero o tempo todo. Will é mais fechado e agressivo, tanto que você termina o livro e ainda assim não consegue descobrir praticamente nada sobre ele. Devo admitir que não sou muito fã do Will não. Na verdade, acho-o um porre. Jem é definitivamente meu preferido de Anjo Mecânico.

Tessa, a protagonista, é uma leitora ávida, o que, mesmo sendo extremamente cliché, conseguiu fazer com que eu goste um pouco mais dela. Ela é determinada e espirituosa, mas em alguns momentos parece se esquecer disso e nos provoca algumas frustrações. Não consigo decidir se gosto mais dela ou da Clary, de TMI. As duas são boas, e ambas me irritam mais vezes do que eu gostaria. Não são nem de longe os destaques de ambas as séries.

Há outros personagens muito bons em Anjo Mecânico, como Jessamine e Charlote, os dois lados da mesma moeda: Jessamine é uma Caçadora de Sombras, mas quer ser apenas uma dama da sociedade, casar e ter filhos. Já Charlote é uma das poucas mulheres em uma posição de comando no mundo dos Caçadores, e tem que se impor a todo instante se quiser se manter no controle de tudo. Eu gostei bastante desse contraste, já que a maior parte dos livros YA de hoje em dia teima em mostrar as personagens femininas que não agem de acordo com as "normas" da sociedade como as únicas que realmente importam ou que são fortes. Sou do time que defende com unhas e dentes que uma mulher pode ser forte sem precisar abdicar de "coisas femininas", e por isso mesmo gostei muito da Jessamine.

Há o Magnus, claro, e a Camille, que também aparece em Cidade dos Anjos Caídos, quarto livro de TMI. Magnus sempre será um dos meus personagens favoritos de todas as séries da Clare, e a presença dele em Anjo Mecânico foi, sinceramente, um alívio. Já a Camille não me desce nem por milagre.

Eu, pessoalmente, não sou muito fã de triângulos amorosos, e li Anjo Mecânico com certo receio nesse sentido. Felizmente, o triângulo amoroso que a Clare planejou não se faz tão presente nesse primeiro livro, o que me deixou imensamente feliz, mas aparentemente isso muda nos próximos volumes. Ainda não li nenhum justamente por temer esse destaque que o triângulo Will-Tessa-Jem terá no futuro.

Deixando o plot e os personagens de lado e indo para a escrita, a da Clare continue simples demais para meu gosto. Não consegui me conectar com a história em vários e vários momentos, e culpo a escrita e a personagem principal por isso. O clímax acabou ficando um pouco fraco, mas nada que realmente estrague a leitura, embora essa falha tire sim um pouco da qualidade do livro. Anjo Mecânico é uma ótima história, sim, é, mesmo com seus defeitos, mas não conseguiu me encantar ou me comover em momento algum. Para ser sincera, se um dia eu continuar essa série será apenas para saber o que acontece com o Jem. 

Já me perguntaram qual das duas séries, TMI ou TID, é minha preferida. Admito que não faço ideia. Adoro o Jem e o fato de TID ser em Londres para variar um pouco das histórias YA sempre se passando nos EUA, mas, como já disse, triângulos amorosos não são pra mim. Adoro o Alec e a Isabelle, mas o rumo que TMI tomou me desagradou em vários pontos. Bem, digamos então que gosto de ambas de modo igual, mas, como ainda não terminei TID (ou mesmo TMI), essa opinião pode  (e provavelmente vai) mudar.

Enfim, duas asinhas para Anjo Mecânico.


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