Resenha: O Nome do Vento

O Nome do Vento é o primeiro livro da série A Crônica do Matador do Rei, do escritor de fantasia americano Patrick Rothfuss. Nele se narra o início da história de Kvothe, ou, como inicialmente o conhecemos, Kote, o dono da pousada Marco do Percurso. Quando vi esse livro pela primeira vez, perdido nas estantes mais escondidas da Saraiva, fiquei meio relutante logo de cara. A ideia de mais um personagem órfão, ainda mais de uma família de artistas, de uma trupe, me deixou com o pé atrás. Demorei semanas e semanas indo e vindo da livraria com outros livros, sempre vendo-o ali, em uma das estantes, mas sem reunir coragem para gastar meu escasso dinheiro com ele. Não me lembro bem o que me fez finalmente desistir da minha hesitação, mas acho que o fato de eu ter lido que George Martin, autor de As Crônicas de Fogo e Gelo (Game Of Thrones), tinha gostado da história e da escrita serviu como empurrão final.
Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso. Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado. Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade. Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade - notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame. Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.
O Nome do Vento acabou se revelando uma das melhores histórias de fantasia que já li, o que só reforça aquele velho ditado de que não se deve julgar o livro pela capa (se bem que nesse caso a capa é linda de morrer). Patrick Rothfuss conseguiu criar uma história maravilhosa e cativante, e a aliou a uma escrita impecável. Diferente da grande parte dos livros de fantasia que ando lendo nos últimos tempos, O Nome do Vento tem uma narrativa cheia de descrições fantásticas, ao estilo de O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Gelo e Fogo. A escrita de Rothfuss dá voz e emoção à história, envolvendo o leitor com uma maestria que, sinceramente, está muito além da grande parte dos livros hoje em dia. Esse é um ponto forte de O Nome do Vento: Rothfuss conseguiu conectar tão bem o leitor aos personagens que é possível sentir seus medos, suas dores e suas alegrias como se estes fossem nossos próprios sentimentos.

O livro é contado de um modo diferente do que estamos acostumados. Ao invés de começar na infância de Kvothe e seguir até seus dias atuais, Rothfuss preferiu fazer o próprio personagem principal contar sua história. O Kvothe que conhecemos no início, o Kote, é um homem comum, dono de uma pousada, que passa dias seguidos atendendo seus poucos clientes e fazendo de tudo para não chamar atenção. Mas então o Cronista chega à cidade e percebe que esse homem aparentemente nada extraordinário é o lendário Kvothe, o Bardo, o Arcano, o Sem-Sangue e o Matador do Rei. É para ele que, em três dias, Kvothe deve contar toda sua história.

Nesses momentos em que Kvothe relata os acontecimentos de seu passado, a narração muda de terceira para primeira pessoa, e somos levados até os dias da infância do nosso personagem principal, quando ele ainda vivia com sua trupe e seus pais. Somos apresentados a personagens que ajudaram a moldar sua personalidade e descobrimos que desde pequeno Kvothe sempre foi curioso e inteligente demais para a idade, atraindo a atenção das pessoas que encontrava.

O livro cresce aos poucos até o seu ponto decisivo, o assassinato de toda a sua trupe pelo lendário grupo do Chandriano, que todos não consideravam nada mais do que uma lenda para assustar as crianças. Kvothe sobrevive por muito pouco e tem que enfrentar sozinho, ainda muito jovem, a selvageria das ruas de Tarbean antes de se encaminhar para a Universidade e o Arcanum, onde os arcanos são formados.

Além das qualidades já citadas, algo de que gosto muito em O Nome do Vento é o fato de que Rothfuss mostra bem demais o processo de criação de um herói e o poder que a algo simples como um nome pode ter sobre nós; mostra como acabamos nos tornando aquilo que dizemos ser ou aquilo que fazemos os outros acreditarem que somos.

E, é claro, há o amor de Kvothe pela música. Sua paixão por canções (e, principalmente, pelo seu alaúde) é um dos sentimentos mais bem descritos do livro, algo que realmente te toca simplesmente por ser absurdamente intenso. É uma das coisas que serve para dar vida ao personagem principal e faz com que nos conectemos ainda mais com ele.

Outra coisa que vale a pena ressaltar é a magia no universo de O Nome do Vento. Ela não é como estamos acostumados. É quase uma ciência, na verdade, o que acaba diferenciando ainda mais a história. Confesso que não é meu tipo preferido de magia, mas já nesse primeiro volume temos indícios de que talvez ela não seja a única, o que me anima um pouco.

Há outros personagens incríveis, é claro. Entre eles destaco Elodin, o Nomeador-mor, meu favorito, Devi, Auri e a misteriosa Denna (de quem não gosto muito, devo confessar). A continuação da história, O Temor do Sábio, já foi lançada aqui no Brasil, mas o terceiro livro, The Doors Of Stone (algo como Os Portões de Pedra) ainda está sendo escrito. Recomendo muito para quem gosta de uma história recheada de descrições e aventura, além de um pouco de reflexão. Cinco asinhas para ele.


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