Resenha: O Olho do Mundo


Dizer que eu estava ansiosa para ler O Olho do Mundo é pouco. Desde que decidi dar uma pausa na minha história para ler livros de fantasia e, desse modo, conhecer a área, o nome (pseudônimo, na verdade) de Robert Jordan começou a pipocar em todos os cantos, assim como o de sua série, A Roda do Tempo. Soube bem no início desse ano que uma editora minúscula e desconhecida tinha publicado o livro há um tempinho, mas desanimei para comprar o primeiro e o segundo volume por pensar que nunca iriam trazer o resto da série pro Brasil. Então, comecei a ler em inglês a passos de tartaruga, mas parei assim que soube que a Intrínseca iria publicar novamente O Olho do Mundo. Comprei-o mais rápido possível assim que ele saiu, e aqui estou eu para (finalmente) contar o que achei.
Um dia houve uma guerra tão definitiva que rompeu o mundo, e no girar da Roda do Tempo o que ficou na memória dos homens virou esteio das lendas. Como a que diz que, quando as forças tenebrosas se reerguerem, o poder de combatê-las renascerá em um único homem, o Dragão, que trará de volta a guerra e, de novo, tudo se fragmentará.Nesse cenário em que trevas e redenção são igualmente temidas, vive Rand al’Thor, um jovem de uma vila pacata na região dos Dois Rios. É a época dos festejos de final de inverno – o mais rigoroso das últimas décadas -, e mesmo na agitação que antecipa o festival, chama a atenção a chegada de uma misteriosa forasteira.Quando a vila é invadida por Trollocs, bestas que para a maioria dos homens pertenciam apenas ao universo das lendas, a mulher não só ajuda Rand e seus amigos a escapar dali, como os apresenta àquela que será a maior de todas as jornadas. A desconhecida é uma Aes Sedai, artífice do poder que move a Roda do Tempo, e acredita que Rand seja o profético Dragão Renascido, aquele que poderá salvar ou destruir o mundo.
Eu adoro essas fantasias mais antigas, para falar a verdade. As novas geralmente deixam um pouco a desejar na construção de mundo e uma boa parte se torna uma adaptação do universo de O Senhor dos Anéis. Não que O Olho do Mundo não tenha algumas semelhanças com os trabalhos de Tolkien (notei várias, várias mesmo), mas, apesar de possuir o mesmo clima, até que consegue se diferenciar bem e ter um espírito próprio.

Uma coisa da qual gostei mesmo foi da “mitologia” do mundo em que a história se situa. Pelo que eu entendi, a Roda do Tempo tem sete eras, que giram e são “remodeladas” cada vez que completam o ciclo, tecendo o Padrão. A fonte de magia do mundo é chamada de Fonte Verdadeira, e é dividida em duas, a parte feminina, saidar, e a masculina, saidin, e aqueles que conseguem usar o Poder são chamados de Aes Sedai. Até a Era das Lendas, tudo funcionava muito bem, mas havia o Tenebroso, o Pai das Mentiras, o Pastor da Noite, ou, simplesmente, Shai’tan, o Destruidor, que ameaçava a Luz. Foi Lews Therin Telamon, o Dragão e um Aes Sedai, quem o aprisionou em Shayol Ghul, além da Praga, e assim salvou a humanidade. Porém, Shai’tan conseguiu macular a parte masculina do Poder, saidin, e levou todos os homens Aes Sedai à loucura. Tomados pela insanidade, esses homens levaram a destruição à todos os cantos e causaram a Ruptura do Mundo. Lews Therin, o Dragão, foi o pior e mais poderoso entre eles.

A história de O Olho do Mundo se passa três mil anos após esse período, que ficou conhecido como Tempo da Loucura. Atualmente só existem Aes Sedai mulheres, que vivem em Tar Valon, e são as únicas capazes de “amansar” os homens que podem usar o Poder, impedindo-os de causar outra Ruptura. E é nesse mundo que vivem nossos personagens principais, Rand, Mat e Perrin.

Uma coisa que me frustrou muito durante a leitura desse primeiro volume foi a falta de respostas. Chegamos ao último capítulo sem saber muita coisa sobre os três personagens principais (dá pra imaginar uma coisa ou outra, mas não há nada concreto) e uma boa parte do meio se arrastou sem uma revelaçãozinha sequer. Mas estou disposta a perdoar isso, já que O Olho do Mundo é o primeiro de catorze livros, então estou encarando-o mais como uma introdução mesmo. Nenhum personagem, infelizmente, conseguiu me prender de verdade. No máximo o Rand, o Lan ou o Mat, mas como já ouvi que eles melhoram e crescem muito nos próximos volumes, estou tranquila quanto a essa parte.

Outra coisa que me incomodou foi o Ba’alzamon, Shai’tan ou, simplesmente, o Tenebroso, o vilão da história. Ele não me convenceu nem um pouquinho sequer. Nem uma vírgula. Todas as suas aparições não me causaram nada além de enfado, mas enfim, é melhor torcer para que isso mude nos próximos livros. A escrita de Jordan é muito boa, superior a muitas que vejo por aí, mas eu esperava mais detalhes e mais descrições. Mas isso é mais questão de gosto do que de qualidade, então prossigamos.

Falando apenas dos pontos negativos faz parecer que eu odiei o livro, o que não é verdade. Estou bem acostumada a uma fantasia mais lenta e mais construída, e O Olho do Mundo tem muito disso, então ganhou vários pontos comigo. Meu problema nesse livro foi justamente o motivo de eu querer continuar a série - é uma introdução, que mostra sim sinais de que vale a pena ler os outros livros, mas que por si só não é tão grandiosa assim. É um defeito, é claro, mas como disse ali em cima, um que estou disposta a perdoar. O segundo livro A Grande Caçada, já saiu, e embora eu queria sim lê-lo, confesso que há uns quinze livros na frente dele.

Fazendo uma pequena observação, muitos dizem que George Martin é o “Tolkien americano”. Eu discordo em gênero, número e grau, já que acho que As Crônicas de Gelo e Fogo não são nem um pouco semelhantes a O Senhor dos Anéis. Se for para escolher alguém para ser o “Tolkien americano”, eu voto no Robert Jordan.

A edição está perfeita, então parabéns à Intrínseca por isso. As páginas são excelentes, as gravuras no início de cada capítulo são lindas e não encontrei erro nenhum no texto. Nesse quesito a editora foi muito feliz, sério. É um livro tão bonito que dá vontade de ficar com ele em tudo quanto é canto.

Por fim, indico O Olho do Mundo para quem gosta de um bom livro de fantasia, que apesar de grosso não possui tantas descrições e detalhes assim, tendo uma leitura fácil e personagens que prometem muito para os próximos volumes. E para quem não se importa muito em ler uma introdução um tanto grande demais. Três asinhas.

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