Resenha: Percy Jackson e os Olimpianos

Essa é uma resenha um pouco diferente, já que falarei de uma série inteira ao invés de um livro só. Percy Jackson e os Olimpianos é uma série infanto-juvenil escrita pelo americano Rick Riordan, que já lançou outra, As Crônicas dos Kane, esta sobre deuses egípcios, e no momento está escrevendo Heróis do Olimpo, a continuação de PJO.

OBS: Como já dito, essa é uma resenha da série como um todo, e poderão haver alguns spoilers, embora eu não revele o final da saga. Leia por sua conta e risco.
Combinando mitologia grega e muita aventura, a saga de Percy Jackson, que aos doze anos descobre que é filho de Poseidon, conquistou jovens e adultos. Foram mais de 15 milhões de livros vendidos no mundo e quase um milhão no Brasil, além de uma adaptação para o cinema que atraiu 1.800.000 expectadores no país. Mais de 40 fã-clubes parceiros da editora alimentam diariamente blogs, sites e comunidades na internet. O último olimpiano foi primeiro lugar na lista de mais vendidos da Veja já na semana de lançamento, e os livros da série figuram hoje entre os mais vendidos de Veja, Época, Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo.
Quando li O Ladrão de Raios, livro um da série, pela primeira vez – e faz um bom tempo, quatro ou cinco anos, eu acho -, li porque o livro tinha saído nos jornais como o novo Harry Potter e eu era (bem, ainda sou) fã da série. Isso já aconteceu tantas vezes nos últimos anos que uma boa parte dos livros que venho lendo são sempre “o novo [insira séride sucesso aqui]“; aconteceu com Crepúsculo, As Crônicas de Gelo e Fogo, Percy Jackson, Fallen, Os Instrumentos Mortais e tantos outros. Infelizmente, na maior parte das vezes, esses “novos sucessos” não se comprovam, na minha opinião, lá muito agradáveis, mas O Ladrão de Raios (e a série como um todo) não foi um desses casos.

Apesar de a história ter alguns clichés (que alguns insistem em chamar de ideias copiadas de Harry Potter), o enredo de Percy Jackson e os Olimpianos é bem interessante e original, tanto pelo que acontece como pelo modo com que o livro foi narrado. Em meio à tantas obras narradas mais ou menos do mesmo jeito, Riordan conseguiu dar um tom novo à sua série ao contá-la da perspectiva de um protagonista com um humor irreverente.

Esse humor reflete nos nomes dos capítulos e até mesmo no desenrolar de alguns acontecimentos, que parecem completamente disparatados no primeiro momento, mas que depois ajudam a dar à série um tom especial e diferente. O mesmo acontece com a interpretação dos mitos e na representação dos deuses. Para mim, essa foi a melhor sacada do Riordan e um dos fatores que levaram Percy Jackson e os Olimpianos ao sucesso.

Os personagens do livro também são bons. Na verdade, essa é uma das poucas séries em que eu consegui realmente gostar do protagonista e não apenas dos personagens secundários (tanto que quando fui ler O Herói Perdido, primeiro livro de Heróis do Olimpo, fiquei sinceramente decepcionada quando percebi que não seria o Percy a narrar a história). O trio principal, Grover, Annabeth e Percy, lembra sim em alguns momentos Rony, Hermione e Harry, mas eles se desenvolvem de um modo completamente diferente e suas personalidades se tornam mais únicas a cada livro que se passa. Annabeth é inteligente, mas, ao meu ver, se difere de Hermione quanto ao modo de agir e de pensar. As duas não são, nem de longe, a mesma personagem.

Na minha opinião, Percy e Nico são os melhores personagens da série (embora Clarisse chegue bem perto dessa marca também). Percy por ser um mocinho diferente da maioria, e Nico por ter um dos maiores desenvolvimentos de todos os personagens dos cinco livros.

Agora falando dos pontos negativos, esse mesmo modo diferente com que a história foi narrada tem seu lado não tão bom assim. Percy Jackson é uma série escrita com tanto humor que, mesmo tratando, em alguns momentos, de temas importantes, não consegue se equiparar, pelo menos ao meu ver, com outras sagas que realmente ficam com você por mais tempo. O Ladrão de Raios, por exemplo, foi um livro tão rápido e fácil que consegui terminá-lo em apenas um tarde, e o máximo de sentimento/emoção/sei lá que ele me causou foi diversão, ou seja, foi apenas uma leitura agradável. Não foi um livro que permaneceu na minha cabeça por muito tempo, e os outros volumes da série seguiram por um caminho parecido. Somente O Último Olimpiano (pra mim, o melhor) conseguiu realmente permanecer comigo por mais do que alguns dias.

É claro que isso pode não ser visto como algo ruim. Afinal, o objetivo principal da literatura, de um modo geral, é entreter. E, bem, pessoas enxergam coisas diferentes no mesmo livro; conheço muitas para quem Percy Jackson foi muito mais importante e significou algo completamente diferente. Essas coisas mudam de pessoa para pessoa, então é mais gosto pessoal mesmo. Já não ouviram algo sobre como um livro é na verdade mil livros, sendo diferente para cada pessoa que o lê?

Aliás, gostaria de pontuar uma coisa. Esses dias li uma matéria em um site famoso de literatura que dizia que Percy Jackson e os Olimpianos era raso demais e "literatura de mercado" demais. Isso me deixou tão frustrada que passeis horas remoendo o texto sem conseguir parar de pensar nele e olha que nem sou super fã de PJO. No final dessa ruminação toda, me veio a pergunta; pra que serve literatura? É como essas pessoas que chamaram PJO de raso pensam, é algo para ser profundo e passar filosofias de vida? Que só serve para publicar livros densos, cheios de significados e reflexões? Ou existe Literatura e literatura?

Eu não posso responder por todos e cada um tem sua opinião. Mas nós que não lemos a grandiosa Literatura com L maiúsculo não somos julgados e condenados por aqueles que a leem? Será que não é justo simplesmente ler por motivos diferentes? Eu não leio para encontrar o sentido da vida ou mesmo para refletir sobre as questões do universo. Sim, se esses tópicos aparecerem é ótimo, excelente e ficarei muito feliz, mas eu leio porque, pra mim, faz parte do ser humano se importar com sentimentos e acontecimentos que não fazem parte de sua vida. Eu leio por procuro emoção e acho que é isso que realmente importa. É óbvio que as coisas ficam melhores se vierem com alguma reflexão, mas se isso não acontecer, tudo bem. Sou eu inferior aos leitores de clássicos por isso? Devo eu usar "livros de mercado" apenas para começar a ler e então partir para os "livros sérios"? Porque se a reposta para essas perguntas for sim, a hipótese toda cai por terra para mim. Leio muito desde os sete anos, não comecei a ler por causa de "livros de mercado", tentei os clássicos e não gostei, e continuo no meu nicho até hoje, simplesmente por me sentir bem lendo livros de fantasia e/ou sobrenaturais. Sou mesmo inferior aos queridíssimos leitores de livros sérios ou é tudo uma fácil, simples e óbvia questão de gosto?

É claro que nossos amigos elitistas sempre ignoram o fato de que esses "livros de mercado" são livros de mercado por um motivo. É porque as pessoas se identificam com eles e com seus personagens, e são capazes de se ver no lugar deles. Quem já leu (ou já viu spoiler, como eu, que ainda não li) o quarto volume de Heróis do Olimpo sabe que uma questão sobre sexualidade foi colocada em foco nele. O quão importante isso pode ser para um jovem que se encontra na mesma situação? E quantas pedras o autor levou e vai levar por tratar disso em um livro infanto-juvenil, já que aparentemente todos os pré-adolescentes do mundo só se descobrem com gays/bi/whatever após poder ler young adult e ter "idade o suficiente" para falar desse tipo "coisa"? 

Eu acredito que esse tipo de literatura seja tão ou até mais importante do que refletir sobre o motivo de nossa existência, muito obrigada.

Enfim, deixa eu terminar minha resenha.

Como eu ia dizendo, na minha opinião, Heróis do Olimpo é melhor do que Percy Jackson e os Olimpianos, mesmo que eu sinta da narração do Percy de vez em quando. Lá os personagens são mais bem desenvolvidos e o surgimento do acampamento romano foi algo que me empolgou bastante. De qualquer modo, o universo criado por Riordan merece sim atenção e reconhecimento, e suas séries estão entre as melhores do gênero para mim.

No mais, é isso. Desculpem pelo rant no meio da resenha. Quatro asinhas para Percy Jackson e os Olimpianos.

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